Teoria Aristotélica da Beleza
A Beleza como harmonia e proporção.
Diferente de Platão, Aristóteles abandona inteiramente o idealismo para descrever a Beleza, e outros campos. Segundo ele, a beleza de um objeto não depende de uma participação na Beleza Suprema, mas decorre apenas de certa harmonia, ou ordenação, existente entre as partes desse objeto em si e em relação ao todo. Achava ainda que uma característica exigida pela beleza era uma certa imponência, uma grandeza que obedeça a certas condições.
Em meio a seus textos, nota-se uma indecisão entre o uso dos termos ‘Belo’ e ‘Beleza’. Isso porque o Belo indicava o Belo clássico, e a beleza descrita por Aristóteles abraçava muitas outras coisas além do dito Belo. De acordo com esses mesmos textos, as características essenciais da beleza seriam a ordem, ou harmonia, assim como a grandeza. Ainda sobre essa grandeza, é válido dizer que esta obedece “a certas condições”, que se estabelece uma preocupação com medida e proporção. Essa referência a harmonia das partes de um todo, unidade e totalidade, resultou no que se conhece por fórmula dos aristotélicos: “A beleza consiste em unidade e variedade”.
Para se entender o conceito aristotélico da beleza, é necessário imergir também na sua visão de mundo. Para Aristóteles, o mundo, vindo do caos, passou a ser regido por uma harmonia. Mas é como se ainda houvesse vestígios da desordem anterior, dando a impressão que os homens estão numa luta constante para banir o caos do novo mundo harmônico.
O conflito entre a harmonia e a desordem.
Ao menos implicitamente, Aristóteles admitia a desordem e a feiúra como elementos aptos a estimular a criação da Beleza, através da arte. E foram essas as grandes contribuições do filósofo para o campo da estética: a admissão da feiúra como parte do campo -através de seus escritos sobre a Comédia- e o afastamento a beleza da esfera ideal que colocara Platão.
Dessa forma, o feio, a desarmonia, expressos na Poética Aristotélica, compõe o que o escritor Bernard Bosanquet denomina ‘paradoxo implícito’, sugerindo que Aristóteles talvez tenha deixado passar despercebida essa adoção da desordem ao campo estético.
Aspecto subjetivo da Beleza.
O fundamento da filosofia aristotélica, mesmo se realista, encontra na Retórica características de contemplação sublime, tomando para si intuições do espírito humano que apontam para o luminoso e o puro conhecimento. Aristóteles observa a Beleza partindo do ponto de vista do sujeito, sob ângulo psicológico.
Sobre a essência da Beleza, a maior contribuição do pensador foi garantir uma definição objetiva dela do ponto de vista realista e sem recorrer a outra coisa para explicá-la que não o próprio objeto. Sendo assim, entende que o verdadeiro realismo não esquece a natureza transcendental da Beleza e o caráter inesgotável e profundo do real. O fato é que ele procurou encarar a beleza em todas as suas relações simultaneamente. Enquanto Platão e os platônicos buscavam a Beleza das coisas na Beleza essencial, Aristóteles plantou os pés na terra, e simplesmente olhou para as coisas.
*Este texto foi construído na proposta de ser uma síntese do capítulo III da obra de Ariano Suassuna, Introdução à Estética.
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