terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre Platão.

Teoria Platônica da Beleza

O Mundo das idéias puras.

Estudar a beleza significa, já de antemão, se perguntar se ela pode ou não ser abordada filosoficamente. Significa tanger todos os problemas da Estética.

A partir dos primórdios do pensamento ocidental, contamos com a contribuição de Platão, que dentro de sua visão idealista do mundo e do homem, acredita que a beleza de um ser material qualquer depende da maior ou menor comunicação que esta exerce com a Beleza Absoluta, que reside no Mundo das Idéias.

Logo, para entender a concepção de beleza platônica, é necessário antes ilustrar a visão de mundo que esse pensador construiu. Para Platão, existia o mundo em ruína, e o mundo em forma. O primeiro é o mundo que conhecemos: o da feiúra, da morte, da ruína, da decadência. O segundo é o mundo autêntico, no qual o nosso tenta, inutilmente, se espelhar, buscando sentido e significação. No mundo em forma, a Verdade, o Bem e a Beleza são essências superiores, e cada ser do nosso mundo em ruína tem no outro um modelo, perfeito.

A Reminiscência.

Sendo assim, a Alma, não pertence ao mundo das ruínas. Sua pátria natural é o mundo das essências, e exilada no nosso mundo, sente sempre saudades do outro. Sendo eterna, ao unir-se ao corpo humano, físico, sofre uma espécie de decadência, e tendo já contemplado a Beleza, a Verdade e o Bem Absolutos, vive uma eterna punição por não conseguir nesse plano, se aproximar deles novamente. A alma humana sabe de tudo, e vez em quando se recorda do mundo das idéias. Quando não, é porque a matéria, grosseira, não permite que ela se recorde.

“O Banquete” e o “Fredo”.

Nesses dois diálogos platônicos, especialmente no primeiro, o filósofo concentra a síntese da sua explicação sobre a Beleza. Nessa passagem, Platão afirma que os seres humanos eram, a princípio, andróginos. Coexistiam, em cada ser, o feminino e o masculino. Através do mito da parelha alada, indica que esse ser andrógino foi dividido em duas metades, começando assim, cada metade, uma busca incansável pela sua parelha, seu par. Acontece que somente os indivíduos mais grosseiros contentam-se com a essa forma primária de amor, o amor físico. O homem superior percebe que a beleza de um corpo é apenas um reflexo embaçado da Beleza Absoluta, e chega à conclusão de que a beleza dos corpos é na verdade uma só. Dessa forma, passa a reconhecer a beleza de todos os corpos, ou melhor, a beleza existente neles, contemplada desinteressadamente.

O caminho místico.

Posteriormente, o indivíduo superior percebe que a beleza da alma é ainda superior a beleza do corpo, sendo esta última sujeita a ruína e decadência, enquanto a primeira resiste. Dessa forma, contemplará a beleza dos costumes e das leis morais, considerando a beleza física pouco digna de apreço.

A Beleza Absoluta.

Nesse estágio indivíduo torna-se prisioneiro voluntário do “imenso oceano da beleza”. Partindo dessa idéia de evolução, o homem estará apto a alcançar numa última fase, a visão da Beleza de natureza maravilhosa, aquela que é eterna, imutável e incomparável. Conhecerá uma beleza que não se apresenta em nenhuma forma corpórea, ou semiótica, ou científica. Será uma Beleza que começa e termina em si mesma, é auto-suficiente. Sendo assim, pelo caminho do amor –primeiro físico, depois espiritual-, o homem conhece a beleza sensível e absoluta, sendo a beleza que conhecemos no mundo das ruínas, apenas um pálio reflexo da Beleza Absoluta.

Existe ainda uma identificação final entre Beleza, Bem e Verdade. Platão atribuía caráter de conhecimento à fruição da Beleza, identificada como Verdade. As duas juntas, são identificadas como Bem. Essa tese está bem explicitada no texto “Fredo”, onde se afirma: “Quanto à Beleza, já te disse, ela brilhava entre todas aquelas Idéias Puras e, na nossa estada na terra, ela ainda ofusca com seu brilho todas as outras coisas (...). Somente a Beleza tem esta ventura de ser a coisa mais perceptível e enlevadora.”

A Reminiscência e o “Menon”.

Não há dúvidas de que para Platão, a Beleza provocava enlevo, prazer, arrebatamento, deleitação. Uma frase que exemplificaria muito bem essa teoria é a de que “a sabedoria é amada por sua beleza, enquanto que a beleza é armada por si mesma”. A Beleza move o desejo e produz o amor, enquanto que a Verdade, como tal, faz somente iluminar.

Enfim, a contemplação da Beleza era, em essência, uma recordação. A alma lembra, ainda que dificultosamente, realidades que contemplou no mundo das Idéias, e nisto consiste a teoria da reminiscência. Segundo ele, a Alma é imortal, conhece tudo, da sublimação ao Hades. Conhece tudo, e por vezes evoca a memória certas coisas que precederam sua união a um corpo material. O espírito já viu todas as coisas.



*Este texto foi construído na proposta de ser uma síntese do capítulo II da obra de Ariano Suassuna, Introdução à Estética.

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